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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

sexta-feira, 24 de outubro de 2025


 “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim te aprouve.” Matheus 11:25-26

No início daquela manhã, dia de São Francisco de Assis, eu acompanhei a Caminhada Penitencial até a antiga usina. Foi o segundo ano que participei. E eu gosto desse tipo de manifestação, longe dos templos suntuosos e fora da cidade, de preferência, por lugares mais ermos. Deparar-me com aquele cenário de abandono não deixou de causar um certo impacto em mim. E me passou um filme na mente. Lembrei que por três anos eu trabalhei naquela indústria açucareira. Não era funcionário dela, mas da Associação dos Plantadores de Cana do RN. E a minha função era a de fiscalizar o serviço de laboratório de analise da cana de açúcar. E eu seguia aquele vai e vem, dia e noite, noite e dia. Foram momentos bons e outros nem tanto. E tudo serviu de aprendizado. Foi bom conviver com aquela “gente humilde”, batalhadora, consciente da missão lhe confiada. Mas foi duro ter que engolir alguns sapos vez em quando, isso por parte dos “poderosos”. Como aconteceu, certa vez, em que eu tive que solicitar um ajuste no proceder da equipe no trabalho do laboratório. Um encarregado, do tipo pau mandado, bajulador, levou o caso ao poderoso chefão, o filho do dono. Resultado: fui chamado de imediato ao laboratório central para dar explicações cabíveis para a minha solicitação. De cara, me vi diante de um tribunal da inquisição. O chefão, de baixa estatura, com aquela pose de rato pequeno, ao lado do seu (iludido) fiel escudeiro, começou a me fazer perguntas técnicas, tentando me embaraçar. Eu, humildemente falei o pouco que tinha aprendido no treinamento que tive. Vendo o meu despojamento, sem nenhuma vontade de causar constrangimento no proceder, apenas querendo fazer cumprir o que me era de direito, me dispensaram. Sabe Deus o que ficaram pensando e comentando a meu respeito. De volta ao laboratório em que eu trabalhava, como é de praxe, registrei no livro de ocorrência o acontecido. Soube depois que o livro foi levado a eles, que ficaram caçoando do que escrevi no meu relato.
Passado tanto tempo, hoje o que sei é que o “chefinho” já partiu para outro plano. Do poderoso chefão eu não tenho notícia, a não ser do seu pai que também já viajou no espaço. Mas sei do seu patrimônio, hoje reduzido a um monte de ferro velho. Aliás, como diz o disco do cantor canadense Neil Young: “a ferrugem nunca dorme”. E eu acrescento: a justiça de Deus muito menos!
No caminho de volta pra casa, me deparei com uma simples flor da salsa, que brotou em meio a ferrugem de uma peça de ferro. Sozinho e a indagar do universo sobre toda essa reviravolta, tive dele a resposta: o tempo e eu somos parceiros, seguimos juntos. Eu sugiro as coisas e ele, no seu tempo, faz acontecer!
E foi aí que eu percebi que todo tempo eu também fiz parte dessa conexão, só que não me dei conta disso. Hoje eu vejo como algo surreal alguém ter tanto amor e proteção para com um miserável feito eu. E o Pai agiu assim para comigo. Deus seja louvado!
🙌

sexta-feira, 1 de agosto de 2025


 

A lâmina do tempo me açoita os flancos
Preciso de uma oração certeira
O monstro da planície orbital me apavora
Tenho um S.O.S. programado
Vou ferir o chão sagrado
Não passarei despercebido nessa festa
Quando o trem atravessar a cidade deserta
Apenas um corvo estará à espreita
Besta será quem não acreditar
Eu já estou de malas prontas...
Só vou deixar uma pista.
Tem um bilhete amassado na mesa do jantar
Um pão dormido atrairá as baratas da casa.✍️

Eliel Silva


sexta-feira, 25 de julho de 2025

 


"Alguma coisa

Está fora da ordemFora da nova ordemMundial..." - Caetano Veloso

 

Pode isso, Dr. Pacheco?!

Semana do município, muitos eventos à vista, como sempre acontece, e isso é muito bom, porque mantém viva a memória da cidade. Alguns me chamam mais a atenção, não tanto pela importância, porque todos são de muita valia, mas por alguma particularidade. Por exemplo: os que ultimamente tem acontecido nas dependências da biblioteca da cidade, casa na qual trabalhei por longos 18 anos e tive que sair, de forma forçada, por ter sido um dos escolhidos para cumprir as exigências da Constituição Brasileira. Mas não estou escrevendo aqui para me queixar dessas coisas, afinal, isso para mim é um problema superado. Me chama mais a atenção, e também me perturba, uns fatos recentes e corriqueiros. Observando o convite dirigido ao público em geral, para um Sarau Lítero Musical que acontecerá hoje na Biblioteca Pública Municipal Dr. José Pacheco Dantas, achei estranho e curioso não estar grafado o nome da Secretaria de Cultura e Eventos, órgão da prefeitura e que tem tudo a ver com esses feitos culturais. E já é a segunda vez que testemunho tal ocorrido. No último evento que participei não havia nenhum sinal dos membros daquele órgão. E mais curioso ainda foi a presença de um secretário de cultura de um município vizinho. Isso me faz crer que alguma coisa está fora de ordem. Com uma dúvida me incomodando, fui averiguar o real motivo da ausência dos nossos funcionários conterrâneos. A resposta, curta e simples, me assustou: “não fomos convidados!” E hoje a história se repete, e no mesmo local de antes. O que me faz pensar que ali existe talvez um “sabichão das arábias” tomando só para si os méritos que deveriam ser da coletividade. E para ele é mais cômodo “convocar” os seus mais chegados, fazendo assim o público apreciar a atuação das mesmas velhas figuras. É no mínimo curioso e deselegante essa intriga municipal. Eu, sendo o queridíssimo prefeito Antônio Henrique, que tem demonstrado ser uma pessoa sensata, chamaria as partes envolvidas para um papo reto e botava os pontos nos is. Mostrava quem é o verdadeiro comandante chefe desse trem.

Em tempo: por conta da minha dedicação àquela casa, nos 18 anos que por lá passei, fui homenageado, tendo o seu jardim recebido o meu nome, projeto do diretor Robsom Oliveira e que, segundo ele, foi aprovado por todos os funcionários da época e acatado pelo então prefeito o senhor Júlio César. O que me deixou profundamente envaidecido, agradecido, mas também preocupado. Porque eu sei que tudo na vida tem o seu preço. Mas isso não me obriga a ficar calado diante de algo que eu não concordo e/ou não entenda. De maneira que sempre me senti, como estou até agora, preparado para se por ventura houver algum descontentamento da direção da casa, e decidir retirar de mim essa homenagem, que fique à vontade. Não sentirei raiva e nem rancor. Vou seguir vivendo da mesma maneira, mantendo firme a minha autenticidade. E salve, Ceará-Mirim e os seus 167 anos de emancipação política!

A poetisa portuguesa Florbela Espanca muito inspirada certa vez escreveu: “tudo no mundo é frágil, tudo passa...”

Mesmo em meio a euforia do momento não custa nada meditarmos sobre essa verdade!


"Se um reino se dividir contra si mesmo, tal reino não pode subsistir; e se uma casa se dividir contra si mesma, tal casa não pode subsistir." - Marcos 3:24-27


segunda-feira, 7 de julho de 2025



"A amizade sincera
é um santo remédio,
um abrigo seguro.
É natural da amizade
O abraço, o aperto de mão, o sorriso..."
Renato Teixeira

Eu o conheci lá pelos idos de 1980. Jovem como eu, cheio de planos e de sonhos, e uma certa rebeldia discreta no agir. Seu sonho era ser ator. E Global. Até chegou a ir para o Rio de Janeiro aventurar uma colocação. Tempos difíceis. A concorrência era grande, pra variar. Voltou desiludido. Mas seguiu o seu caminho sonhando. Bateu muita bola com amigos em comum no campinho em frente ao cemitério. Mas o seu objetivo era ser ator. Atuou por aqui em algumas peças teatrais. Visitava sempre a casa dos meus pais, onde eu morava nos tempos de então. E foi numa dessas visitas, numa tarde, que me veio a vontade de escrever algo sobre ele. E assim o fiz.
Mas chegou o tempo de Joãozinho (Melo) batalhar algo mais real, deixar um pouco de lado a fantasia. A sua caridosa "tia" Luiza, que o acolheu, também já estava cansada. Foi quando arriscou um concurso público e para sua sorte, conseguiu um lugar. Foi ser vigilante. Mas a sua mente andava confusa. Tantas ilusões perdidas. Viciou-se em coisas ilícitas e começou assim o seu calvário. Por generosidade, alguns gestores o mantiveram no emprego, na prefeitura, mesmo ele não mais cumprindo com suas obrigações. Mas entenderam que se tratava de uma enfermidade grave. A sua mente estava em outra esfera.
E assim passou a perambular pelas ruas da cidade. Cajado na mão, barba longa, roupas surradas, olhar perdido no tempo... Por muitas vezes me esbarrei com ele, como nesse momento da foto, na rua Heráclio Villar. E eu me lembro que era fevereiro de 2020. A cidade estava deserta, mas nós estávamos a postos. E o tempo foi se passando. Ele foi se mudando de local de "pousada". Mas sempre que nos encontrávamos era aquele papo, as vezes meio desconexo. E então seguiu-se o silêncio. Onde anda Joãozinho?! Eu perguntava a pessoas que eu sabia ter alguma conexão com ele. Me diziam várias coisas: estava morando numa casa não sei aonde; estava internado, em tratamento. E o tempo foi passando veloz, feito um trem impiedoso. Um amigo um dia deu uma luz: procure saber no comando da Guarda Municipal, ele faz parte do quadro de funcionários. Certamente irão informar. E assim eu fiz. Me encontrei com uma amiga que faz parte da instituição e indaguei. Ela me disse que ele havia falecido. E que já fazia um certo tempo. Fiquei parado. Extasiado. Não tanto pelo acontecido, porque já era de se esperar, uma vez que ele se encontrava muito debilitado, mas muito me estranhou a ausência de um comunicado nas redes sociais. Tá certo, ele não era (como um vez sonhou) uma celebridade, mas era um ser humano, com um coração que batia como o de todos nós. O pano se fechou e eu não consegui acompanhar a atuação do meu amigo ator nesse seu último ato. Coisas da vida! Sozinho agora, na plateia e fora do tempo, vou aplaudir mais uma vez meu amigo Joãozinho, Melo, o ator, o profeta...

OH! MEU AMIGO
Oh! Meu amigo
Esse teu jeito tão simples de caminhar
Faz a cabeça desse teu fã que quer te acompanhar...
Oh! Meu amigo
As tuas vestes fazem vibrar todo o meu ser
E teus cabelos soltos ao vento
Na esperança me faz crer.
És a flor do cacto, planta do sertão
Que suporta a seca, esse bicho papão
És um rio que transborda lá no mar
Mas sem pressa de chegar.
Oh! Meu amigo
Essa mania de apertar a minha mão
E o som bonito dessas tuas sandálias
Arrastando a vida pelo chão.
Oh! Meu amigo...
(poema dedicado ao meu amigo Joãozinho Melo, o ator)
Eliel Silva, 01/01/1984
* João Maria Melo - Falecimento: 20 de maio de 2024.

terça-feira, 27 de maio de 2025

 


"Nós vamos lembrar momentos legais
Um gesto, uma nota, uma ideia
Momentos intensos
Momentos demais
Momentos imensos
Mentiras reais." 🎶
("Nossos Momentos" - Caetano Veloso)

Mais uma cena do cotidiano simples e sem maquiagem. Meus amigos Paulo e Nilênio numa manhã sem pressa de passar.

📸 O crédito da fotografia é de uma jovem senhora que passava na rua com seus dois filhos, vindos certamente do postinho de saúde.